Quem foi Mitsuyo Maeda?
Mitsuyo Maeda (前田 光世) (1878 – 1941) nasceu na pequena cidade de Funazawa, na província de Aomori, Japão. Filho de uma família tradicional, cresceu em um Japão que passava por grandes transformações políticas e culturais após a Restauração Meiji.

Um dos seus primeiros contatos com as artes marciais foi com o Sumo, mas seu destino mudaria radicalmente ao se mudar para Tóquio para ingressar na prestigiosa Universidade Waseda.
👉 Quer saber como o judô se espalhou pelo mundo? Leia nosso artigo sobre a história do judô
Foi lá que ele encontrou o Kodokan, o instituto fundado por Jigoro Kano, o criador do Judô. O Judô de Kano, que significa “caminho suave”, era uma reformulação moderna do antigo Jiu-Jitsu feudal, focada em arremessos, imobilizações e finalizações, com um forte componente filosófico e educacional. Maeda não apenas se encantou pela arte, mas se tornou um de seus discípulos mais dedicados e talentosos.
Ainda jovem, mostrou interesse pelas artes marciais e encontrou no judô – recém-criado por Jigoro Kano – sua paixão e caminho de vida. Ingressou no Kodokan, a escola fundada por Kano em Tóquio, onde foi treinado intensivamente nos princípios do judô, incluindo técnicas de projeção, imobilização e finalizações.
Com talento excepcional, Maeda tornou-se rapidamente um dos alunos mais respeitados, recebendo a missão de difundir o judô pelo mundo.
Maeda era um aluno prodígio. Logo alcançou o posto de shodan (primeiro dan) e, em pouco tempo, o de sandan (terceiro dan). Seu treinamento, no entanto, não se limitava ao dojo. Maeda, assim como outros alunos de Kano, participava de desafios de luta livre e outras modalidades, testando o judô contra diferentes estilos.
👉 Para entender a mente por trás da arte que Maeda praticava, leia a biografia de Jigoro Kano, criador do judô
Conde Koma: a criação do apelido lendário
O apelido “Conde Koma” (Conde do Combate) surgiu durante suas viagens pela Europa e América. A origem exata é incerta, mas a teoria mais popular sugere que seja uma corruptela da palavra japonesa “koma” (combate, luta), ou uma referência à sua semelhança física com um nobre espanhol da época. Esse personagem misterioso e invencível cativou o público e a imprensa internacional.
Foi durante suas viagens pela Europa, após uma série de vitórias impressionantes em turnês de luta, que a imprensa o apelidou de “Conde Koma”. O apelido pegou, e Mitsuyo Maeda se tornou para sempre conhecido por esse título honorário. Sua reputação como um lutador formidável e invicto crescia a cada novo desafio.
O apelido tinha um tom exótico e teatral, que chamava a atenção em cartazes de lutas e apresentações. Apesar da aura cênica, Maeda mostrava nas arenas a verdadeira força do judô, derrotando boxeadores, lutadores de luta livre e praticantes de outras artes.
Esse espírito competitivo o tornou uma espécie de “embaixador do judô”, mas também o aproximou de um público que via nas lutas não apenas esporte, mas espetáculo.
A vida de desafios: viagens pelo mundo

A pedido de Jigoro Kano, ele embarcou em uma missão que o levaria para longe de sua terra natal: popularizar e difundir o judô pelo mundo.
Maeda viajou para os Estados Unidos, onde passou anos desafiando lutadores e ensinando a arte marcial. Em Chicago, Nova York e, em seguida, na Espanha, ele fez demonstrações, enfrentou boxeadores, lutadores de catch wrestling e praticantes de outras modalidades.
Mitsuyo Maeda percorreu os quatro cantos do mundo no início do século XX. Sua jornada incluiu países como Estados Unidos, Inglaterra, Espanha, México, Cuba e outros da América Latina.
Nessas viagens, enfrentou centenas de oponentes em desafios que iam além da simples exibição: eram duelos reais para provar a eficiência do judô. Algumas fontes estimam que Maeda tenha participado de mais de mil combates, quase todos vencidos.
Esses desafios tinham duplo objetivo: consolidar a credibilidade da arte marcial e atrair novos estudantes interessados em aprender com o “samurai moderno”.
Curiosidade: Em 27 de novembro de 1941 o Kodokan promoveu Mitsuyo Maeda ao 7º dan, e ele faleceu no dia seguinte, 28 de novembro de 1941, em Belém (Pará).
👉 Veja como outras artes orientais se difundiram no mundo em: História do Karatê
A chegada ao Brasil em 1914: um marco histórico
Foi em 1914 que Mitsuyo Maeda desembarcou no Brasil, estabelecendo-se inicialmente em Belém do Pará. O país, naquela época, recebia um fluxo constante de imigrantes japoneses, e a presença de Maeda se tornou fundamental para o intercâmbio cultural entre as nações.
Ele começou a dar aulas, organizar exibições públicas e realizar combates que chamavam atenção da sociedade brasileira. A receptividade foi positiva: tanto imigrantes quanto brasileiros locais ficaram fascinados pela eficiência de sua arte.
Sua chegada não apenas introduziu o judô ao Brasil, mas também lançou as bases para o desenvolvimento do jiu-jitsu brasileiro, que se diferenciaria com o tempo.
Mitsuyo Maeda, o Judô e o nascimento do Jiu-Jitsu Brasileiro
Em 14 de novembro de 1914, após anos percorrendo os Estados Unidos, Reino Unido, México, Cuba e outros países, Mitsuyo Maeda chega ao Brasil.
Maeda viajou e lutou em várias cidades, incluindo o Rio de Janeiro e Salvador, antes de se estabelecer por um curto período em Porto Alegre (RS). De Porto Alegre, ele então partiu para se estabelecer de forma mais permanente em Belém do Pará em 1915.
Ele se estabeleceu em Belém do Pará, onde recebeu o apoio do empresário e político Gastão Gracie. Gastão era um entusiasta da cultura japonesa e ajudou Maeda em suas empreitadas, inclusive organizando desafios e exibições para demonstrar a eficácia de sua luta.
Foi nesse cenário que um jovem e franzino Carlos Gracie, filho de Gastão, se encantou pela técnica que permitia a um homem menor vencer outro muito maior. Gastão, agradecido pela ajuda de Maeda, pediu que o japonês ensinasse a arte a seu filho. Maeda concordou, e Carlos começou a aprender os segredos do Judô/Jiu-Jitsu na academia que o mestre havia fundado.
Dessa forma, Maeda tornou-se uma das figuras-chave na transição entre o judô japonês e o jiu-jitsu brasileiro, influenciando diretamente o nascimento de um novo estilo marcial.
👉Quer saber como a arte ensinada por Maeda se transformou? Descubra as diferenças e semelhanças no nosso artigo: Judô vs Jiu-Jitsu: Qual a Diferença?
A relação com a família Gracie
A relação entre Mitsuyo Maeda e a família Gracie é o capítulo mais crucial dessa história. É importante notar: Maeda não ensinou uma arte chamada “Jiu-Jitsu brasileiro”. Ele ensinou o Judô Kodokan, que na época ainda carregava muito do antigo Jiu-Jitsu (o Kano Jiu-Jitsu), com foco intenso no ne-waza (técnicas de solo).
Carlos Gracie foi seu aluno direto por alguns anos, absorvendo os fundamentos. Mais tarde, ele passou o conhecimento ao seu irmão mais novo, Hélio Gracie. Foi Hélio, devido sua fragilidade física na juventude, que adaptou e refinou as técnicas, maximizando a alavancagem e a eficiência energética para compensar a falta de força. Desse processo de experimentação e evolução contínua, nasceu o Jiu-Jitsu brasileiro (ou Gracie Jiu-Jitsu).
Maeda foi, portanto, a semente. Os Gracie foram o solo fértil que permitiu que essa semente germinasse, crescesse e se transformasse em uma árvore única e poderosa.
Estilo de vida, filosofia e legado
Mitsuyo Maeda era um homem de rigor marcial, disciplina e coragem. Sua filosofia ia além da luta: pregava a importância da ética, do respeito e da persistência.
Entre seus legados mais importantes estão:
- A internacionalização do judô, que se fortaleceu por meio de suas viagens.
- A semente do jiu-jitsu brasileiro, que hoje é reconhecido mundialmente.
- A construção de pontes culturais entre Japão, Brasil e outros países.
Essa soma faz de Maeda não apenas um lutador, mas um verdadeiro embaixador cultural.
Maeda foi o catalisador. Ele trouxe a semente. O que a família Gracie e outros praticantes, como Luiz França Filho e Oswaldino Ferreira, fizeram foi cultivar e desenvolver essa semente, transformando-a em uma das artes marciais mais influentes e exportadas do planeta.
A morte de Mitsuyo Maeda
Mitsuyo Maeda faleceu em 28 de novembro de 1941, em Belém do Pará, aos 63 anos de doença renal.
Hoje, seu nome é reverenciado em tatames de todo o mundo. Tanto o judô quanto o jiu-jitsu brasileiro carregam marcas indeléveis de sua passagem.
Curiosidades sobre Mitsuyo Maeda 📌
- Participou de mais de mil combates em diferentes países.
- Seu apelido “Conde Koma” virou lenda no início do século XX.
- Há livros e artigos científicos dedicados à sua vida, como “The Toughest Man Who Ever Lived: Mitsuyo Maeda”.
👉 Confira também a Biografia de Gichin Funakoshi, pai do Karatê moderno
O impacto imortal de Mitsuyo Maeda
A biografia de Mitsuyo Maeda é mais do que a história de um lutador: é a trajetória de um homem que cruzou fronteiras, uniu culturas e transformou artes marciais em patrimônio mundial.
Sem sua passagem pelo Brasil, o jiu-jitsu brasileiro – hoje uma das maiores expressões do país no cenário esportivo e cultural – talvez nunca tivesse existido.
Mitsuyo Maeda será sempre lembrado como o Conde Koma, mas sobretudo como o pai espiritual do jiu-jitsu brasileiro.
Perguntas Frequentes sobre Mitsuyo Maeda
Mitsuyo Maeda praticava Judô ou Jiu-Jitsu?
Maeda era um mestre de Judô Kodokan. No entanto, na época, o termo “Jiu-Jitsu” (ou “Jiu-Jitsu de Kano”) ainda era usado de forma intercambiável para descrever a arte, que era uma síntese de vários estilos de Jiu-Jitsu tradicional. Ele ensinou a arte que dominava: o Judô com forte ênfase no combate no solo (ne-waza).
Quantas lutas Mitsuyo Maeda venceu?
Os registros históricos são imprecisos, mas biógrafos e relatos da época estimam que Maeda tenha travado mais de 1000 combates ao longo de sua carreira, com um número astronômico de vitórias. Ele é considerado um dos lutadores com mais lutas da história das artes marciais.
Existe algum livro sobre Mitsuyo Maeda?
Sim, a obra de referência mais completa é “Maeda Mitsuyo: O Conde Koma, o Lutador que Ensinou Jiu-Jitsu aos Gracie”, do historiador Roberto Pedreira. É uma pesquisa extensa e detalhada sobre sua vida e trajetória, considerada a biografia definitiva sobre o Mitsuyo Maeda em português.
Referências
Revista Time Line: A história de Mitsuyo Maeda. Acesso em: setembro de 2025
Wikipedia: Mitsuyo Maeda. Acesso em: setembro de 2025
Green, Thomas A. Martial Arts of the World: An Encyclopedia of History and Innovation. ABC-CLIO, 2010.