Gichin Funakoshi, biografia do Pai do Karatê Moderno

Quem Foi Gichin Funakoshi?

Gichin Funakoshi treinando karatê (imagem pública)
Linhagem Shotokan de Gichin Funakoshi | ArteCombat

Linhagem Shotokan de Gichin Funakoshi

Anko Asato
1827-1906
Shuri-Te
Anko Itosu
1831-1915
Shuri-Te
Gichin Funakoshi
1868-1957
Pai do Karatê Moderno
Yoshitaka Funakoshi
1906-1945
Shotokan (Técnicas Avançadas)
Masatoshi Nakayama
1913-1987
Instrutor Chefe da JKA
Hironori Otsuka
1892-1982
Wado-Ryu
Shigeru Egami
1912-1981
Shotokai
Hirokazu Kanazawa
1931-2019
Shotokan (JKA)

Linhagem do Karatê Shotokan

Gichin Funakoshi, reconhecido como o pai do karatê moderno, foi treinado pelos mestres Anko Asato (especialista em Shuri-Te) e Anko Itosu (pioneiro no ensino escolar do karatê). Seus alunos, como Masatoshi Nakayama (Instrutor Chefe da JKA) e Hironori Otsuka (criador do Wado-Ryu), difundiram globalmente o karatê. Esta árvore mostra como o Shotokan evoluiu de uma arte marcial de Okinawa para um fenômeno mundial.

Gichin Funakoshi (1868-1957) foi um mestre de artes marciais nascido em Shuri, Okinawa, Funakoshi cresceu em um período de grandes mudanças no Japão.

Desde criança, teve saúde frágil, o que o levou a estudar artes marciais sob a tutela de mestres como Anko Asato e Anko Itosu, dois dos maiores nomes do “Tode” (antigo nome do karatê).

A infância em Okinawa: A Okinawa do século XIX era um caldeirão cultural, com influências chinesas e japonesas. O Te, praticado secretamente por séculos devido a proibições, começava a emergir.

Apesar de ser um educador de formação, Funakoshi dedicou sua vida a sistematizar e difundir o karatê, adaptando-o de uma arte marcial secreta para uma disciplina acessível. Sua jornada o levou a Tóquio em 1922, onde apresentou o karatê ao público japonês, mudando sua história para sempre.

Em 26 de abril de 1957, aos 88 anos, Funakoshi faleceu em Tóquio, deixando o legado de fundador do estilo Shotokan e o título de “pai do karatê moderno”

Veja também 👉 História do Karatê: Origens, Técnicas e Curiosidades

Primeiras lições em Okinawa

  • No início da pré-adolescência, por volta dos 11 ou 12 anos de idade, Funakoshi começou seus estudos de karatê com Yasutsune Asato (Shuri-Te) e Anko Itosu (Shuri-Te).
  • Treinos secretos eram realizados à noite, no quintal de Asato, exigindo “hito kata san nen” — aprender profundamente um único kata em três anos.
  • Essa disciplina rigorosa moldou sua mente e corpo, fazendo de Funakoshi um praticante resiliente.
Funakoshi e seu mestre Itosu (imagem: Karatê club Colombes)

Esses professores de Gichin Funakoshi não apenas lhe transmitiram técnicas, mas também incutiram nele os princípios éticos e filosóficos que viriam a ser a base do karate Shotokan.

Ele absorveu os ensinamentos de ambos, criando uma síntese única que mais tarde definiria seu próprio estilo.

A Propagação do Karate: chega ao Japão

A consolidação em Tóquio

Sensei Gichin Funakoshi demonstrando kata (imagem pública)
  • Em março de 1921, foi convidado para uma demonstração no Castelo de Shuri à presença do príncipe herdeiro Hirohito.
  • No final de 1922, Funakoshi viajou ao Japão continental para exibir o Okinawa-Te na Exposição Atlética Nacional de Tóquio, ganhando o apoio de Jigoro Kano, criador do judô.
  • Resoluto em propagar o karatê, começou a lecionar no dormitório Meisei Juku em Tóquio, abrindo caminho para mais adiante fundar seu primeiro dojo oficial.

Fundação do Shotokan e codificação do Karate-Dō

  • Em 1924, Funakoshi alterou os caracteres de 唐手 (“mãos chinesas”) para 空手 (“mãos vazias”), tornando o nome mais aceitável no Japão. A mudança foi formalmente reconhecida em Okinawa em 1936, embora ele já usasse os novos caracteres em publicações anteriores, possivelmente já em 1922.
  • Em 1936, inaugurou o “Shotokan” — com Shōto (pseudônimo literário de Funakoshi, “ondas de pinheiro”) + kan (salão) — e publicou o clássico Karate-Do Kyohan, texto fundamental de kata e princípios.
  • Entre 1922 e 1949, publicou tratados como Ryūkyū Kenpō Karate (1922) e Karate Jutsu (1925).

Filosofia: Niju Kun e Dojo Kun

Funakoshi resumiu sua visão em Niju Kun (Os 20 Princípios Fundamentais) e Dojo Kun (as regras de conduta do dojo), que orientam o praticante para além da técnica:

  • “Karate ni sente nashi” – no karatê não existe o primeiro ataque.
  • “Karate wa rei ni hajimari rei ni owaru koto o wasuruna” – o karatê deve começar e terminar com saudação.
  • “Karate wa gi no tasuke” – o karatê é assistente da justiça.
  • “Mazu onore o shire, shikashite ta o shire” – primeiro conheça a si mesmo, depois aos outros.

Veja também 👉 Dojo Kun: Os 5 Princípios do Karatê que transformam vidas!

Veja também 👉 Niju Kun: Os 20 Princípios fundamentais do Karatê-Do

Principais Publicações de Gichin Funakoshi

Explore as obras fundamentais do pai do karatê moderno. Clique em cada publicação para detalhes:

1922

Ryūkyū Kenpō Karate

Primeiro tratado técnico de karatê

Autor: Gichin Funakoshi

Significado: Primeira obra publicada em Okinawa, marcando o início da documentação formal do karatê.

Conteúdo: Princípios básicos e técnicas fundamentais do karatê tradicional.

1925

Karate Jutsu

Manual técnico revisado

Autor: Gichin Funakoshi

Significado: Edição expandida após o terremoto de Kanto (1923), com mais técnicas e fotografias.

Destaque: Aprimoramento visual e técnico da obra original de 1922.

1935

Karate-Do Kyohan

O “Texto Mestre” do karatê

Autor: Gichin Funakoshi

Significado: Considerada a obra mais importante, descrevendo 19 katas tradicionais.

Legado: Base técnica para o estilo Shotokan, com edição revisada em 1973.

1943

Karate-Do Nyumon

Guia introdutório filosófico

Autor: Gichin Funakoshi

Significado: Introdução aos princípios do karatê-do como caminho de vida.

Destaque: Explica a famosa frase “karate ni sente nashi” (não há ataque inicial).

1975

Karate-Do: My Way of Life

Autobiografia póstuma

Autor: Gichin Funakoshi (compilação póstuma)

Significado: Relato pessoal da jornada do mestre e da difusão do karatê.

Tradução: Versão em português publicada em 1994 pela editora Cultrix.

2003

The Twenty Guiding Principles

Niju Kun comentado

Autor: Ensino de Funakoshi (editado por John Teramoto)

Significado: Compilação e análise dos 20 princípios filosóficos do karatê-do.

Destaque: Explicações detalhadas sobre conceitos como “mizu no kokoro” (mente como água).

Influências de Gichin Funakoshi

  • Anko Asato (1827-1906): mestre de Shuri-Te, legou a Funakoshi a ênfase na velocidade e fluidez dos movimentos.
  • Anko Itosu (1831-1915): codificou o ensino em escolas de Okinawa, inspirando Funakoshi a introduzir o karatê no sistema público de ensino.
  • Jigoro Kano (1860-1938): fundador do judô e mentor em Tóquio, ajudou a abrir portas na elite japonesa e sugeriu o sistema de faixas do judô para o karatê.
  • Hoan Kosugi: pintor que encomendou o primeiro livro de Funakoshi e impulsionou sua permanência em Tóquio.

Legado e reconhecimento

  • Pai do karatê moderno: universalizou o estilo Shotokan, presente em milhões de praticantes mundo afora.
  • Fundação da Japan Karate Association (JKA): em 1949, seus alunos formaram a JKA com Funakoshi simbolicamente como chefe honorário, perpetuando seu método e filosofia.
  • Monumento em Engaku-ji (Kamakura): ergueu-se em 1968, com inscrição “Karate ni sente nashi” (sem primeiro ataque), gravada por Sōgen Asahina, chefe do templo.

Gichin Funakoshi: 2 Fatos Marcantes de Sua Vida

Fato histórico: Em 1º de setembro de 1923, Gichin Funakoshi sobreviveu ao catastrófico Grande Terremoto de Kanto (magnitude 7.9) que destruiu Tóquio. Seu dojo Meisei Juko foi completamente arrasado pelos tremores e pelos incêndios subsequentes, que começaram durante o horário de almoço quando fogões a gás estavam em pleno uso.

Impacto: Segundo fontes consultadas pelo Arte Combat, o desastre matou mais de 140.000 pessoas. Muitos alunos de Funakoshi pereceram, mas sua sobrevivência permitiu que continuasse sua missão de difundir o karatê no Japão.

Filosofia única: Funakoshi nunca participou de competições de karatê. Para ele, a arte marcial era um caminho de autoperfeiçoamento (karate-do), não um esporte competitivo.

Em suas palavras: “O verdadeiro karatê é como a água fervente – se não for continuamente aquecido, esfria.” Ele via a prática como disciplina vitalícia, não como meio para ganhar troféus ou medalhas.
Imagens do terremoto de Kanto, Japão 1923.

Hoje, milhões de praticantes em todo o mundo seguem seus ensinamentos. O karatê foi incluído como esporte olímpico, mas seus valores originais permanecem: disciplina, respeito, autossuperação e paz.

Referências

Funakoshi, Gichin. Karate-Do: Meu modo de vida. Kodansha Internacional, 1975.

Wikipédia - Gichin Funakoshi. Acesso em Julho de 2025.

Daitan Karatê Shotokan - Gichin Funakoshi. Acesso em Julho de 2025.

Japan Karate Association (JKA) - Gichin Funakoshi. Acesso em: Julho de 2025.

McCarthy, Patrick. Bubishi: O Manual Clássico de Combate . Tuttle Publishing, 2008.

A History of Karate: From Te to Shotokan (Bruce Haines) – Descreve o período difícil em Tóquio.

UOL - Terremoto de Kanto. Acesso em Julho de 2025.

Karate-Do Kyohan (Gichin Funakoshi), ano 1935.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Rolar para cima